terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Discussão



Se forem levados em conta os poucos estudos nacionais que estimaram prevalência de alcoolismo em população geral, os presentes achados situam-se no extremo inferior do espectro de resultados. Se forem considerados como alcoolistas também os indivíduos que, apesar de não alcançarem 2 pontos no teste CAGE, responderam afirmativamente à questão referente ao consumo de álcool pela manhã, a prevalência passaria de 3% para 3,9%, sendo de 6,3% em homens e de 2,3% em mulheres.
Embora seja recomendável a correção de prevalências obtidas por instrumentos de "screening" a partir dos erros de classificação observados nos procedimentos de validação, optou-se por não adotar este procedimento. A decisão deve-se ao fato do valor preditivo descrito na literatura não se aplicar ao presente caso (estudo em população geral) já que essa medida varia com a prevalência do fenômeno estudado. Mesmo que fossem utilizadas fórmulas de correção que usam como parâmetros a prevalência obtida pelo teste e as proporções de falso-positivo e falso-negativo (que não variam com a prevalência), teríamos que aceitar, na presente investigação, valores de sensibilidade e de especificidade obtidos em estudos realizados em condições distintas. Para reforçar esse ponto de vista, esclarece-se que essa tentativa de correção com dados de outros estudos foi por nós implementada em caráter experimental, resultando em prevalências negativas de alcoolismo.
No Brasil a prevalência encontrada por Santana é a que mais se aproxima dos presentes achados. Entretanto, comparações entre os estudos conduzidos no país esbarram em questões metodológicas, como a utilização de instrumentos diagnósticos distintos. Além desse aspecto, a utilização do teste CAGE como critério de alcoolismo merece cautela por se tratar de um questionário de "screening" e não de diagnóstico final, necessitando também de estudos de validação em âmbito populacional.
Também chamou atenção o fato da proporção de indivíduos que consumiam álcool (52%) ser bastante inferior ao relatado em diversos países: 90% nos EUA, 87% na Austrália, 83% no Canadá e 75% no Equador. No entanto, houve semelhança com a Colômbia e México: 51%. A maior proporção de mulheres entre os entrevistados (60%) não parece ser suficiente para explicar essas discrepâncias.
Os resultados do inquérito estão de acordo com a literatura no que se refere à predominância do alcoolismo crônico no sexo masculino e na faixa dos 30 a 49 anos de idade. Trata-se de um achado que vem sendo consistentemente descrito, mas cuja causa ainda não está devidamente esclarecida. Hipóteses têm sido construídas sobre pressupostos biológicos, sociais, econômicos, culturais. Fala-se, entre outras coisas, no papel social da mulher, na identificação da virilidade com a capacidade de beber, na utilização do álcool como ansiolítico entre os homens, na moral restritiva e estigmatizante do consumo de álcool em mulheres.

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